Em Global Make-Up Program, não há paixões.
Zoran, o encenador, instalado no seu labirinto social, dele não participa. Inquieto, inquisidor, reconhece a trama e põe em cena a vida corroída por um desespero surdo, num sentimento de angústia entranhada e irreversível, transportando à sua caracterização a fragilidade física e moral de uma sociedade corroída por vícios e à deriva num denso simulacro que conduz a uma aparente paralisia dos seres, enclausurados no seu próprio grito.
Verdades extraídas da angústia existencial de saber-se no caos, na ruína, no labirinto universal em que a humanidade mergulhou.
O grotesco constrói-se.
Assim, o MAC – Movimento Arte Contemporânea dá as boas vindas a Zoran, pela sua primeira mostra neste espaço, não querendo deixar de chamar a atenção para a forma total com que o artista interpreta e desmistifica a máscara que cada um de nós transporta diariamente para o exterior.
Global Make-Up Program é um entendimento globalmente vivido e vivenciado por cada um de nós quotidianamente, em que cada indivíduo é, talvez, o seu único passivo, acrítico e impúdico espectador.
Álvaro Lobato de Faria
"ELEGIA E ODE"
Ana Clara Bárbara_Orhan Tekin
Esta é uma exposição que reúne os trabalhos de dois artistas, Ana Clara Bárbara e Orhan Tekin.
Encontraram-se a fazer pesquisa em escultura em Edimburgo, Escócia, e esta é a primeira exposição em que exibem juntos. O trabalho apresentado foi maioritariamente concebido especialmente para esta exposição e desenvolve temas que os artistas exploram habitualmente. Exibem-se peças escultóricas, objectos apresentados no espaço da galeria, colocados sobre mesas e plintos, e também peças de parede. Neste caso particular as peças foram produzidas em Edimburgo e Ankara, finalizados e montados no espaço da galeria MAC – verdadeiramente transportados na mala.
O trabalho de Orhan Tekin, elegia, reflecte sobre a arte como forma de alcance da verdade, da arte como reveladora da natureza tão sublime como sublimadora, do sofrimento, da dor, do fracasso. O artista adopta a visão nietzschiana da arte como aquilo que permite às pessoas existirem e manterem-se seres morais quando confrontadas com o sofrimento.
Nesta perspectiva, Orhan Tekin usa materiais como o carvão, a cinza, a renda, loiça, objectos de uso quotidiano acessíveis aos mais desfavorecidos da sociedade – a admiração que Tekin tem pelos pobres desempenha um papel fundamental na sua motivação como escultor. Inspirando-se em aspectos da sociedade turca, no meio da qual cresceu e onde vive, Orhan combina materiais fazendo surgir objectos que, criados a partir de elementos familiares, fazem aparecer outros, não antecipados.
Orhan admira a capacidade transformadora que os pobres têm e assim elege-os heróis pela capacidade que possuem em criar as ferramentas de sustento e uso diários a partir dos parcos materiais que lhes são acessíveis. Tekin reconhece na limitação de recursos a força impulsionadora que permite aos menos favorecidos libertarem-se dos valores cansados e convencionais do resto da sociedade. Nas peças exibidas, Orhan Tekin reproduz o processo criativo e transmutador daqueles que lhe conferem inspiração.
Ana Clara Bárbara faz uso de tecidos e panos com usura, ouro e tinta de caneta, criando peças que sugerem espaços amplos, abertos. O seu trabalho aponta para zonas que ficaram vagas quando a matéria mais densa se sublimou. Nos anéis inseridos um no outro, o ponto focal é o espaço deixado vazio pela partida dos corpos que formaram o objecto, porém o local de interesse é a área onde os corpos se encontraram e assim deixaram uma impressão durável. Nas peças de parede a artista apresenta contornos de crianças, suspensas sobre galáxias e constelações mas simultaneamente adormecidas em lençóis de berço terreno. Parece deste modo sugerir a relação sincrónica entre a Terra, o espaço sideral e a existência humana. É assim introduzido um olhar de leveza, donde a sua proposta ser de ode.
Para ambos os artistas é importante a noção da revelação da interioridade. No caso de Orhan Tekin, a revelação da matéria que se forma e transforma no segredo do interior da terra, longe da visão clara da Natureza, o carvão. Ou a cinza, âmago leve que fica quando a combustão retira aquilo que constitui a parte dura da matéria. No trabalho de Ana Clara Bárbara – os tecidos re-usados, o ouro metal que não se corrompe, a escrita como continuidade do pensamento e da comunicação da experiência – a revelação é a da presença daquilo que não é inflamável ou do inflamável que persiste, a escolha daquilo que não se deteriora. A passagem humana que resiste, que se multiplica e que se expande.
A mostra estará patente com o seguinte horário:
segunda a sexta das 13h às 20h
sábado das 15h às 19h
domingos,por marcação
tm 96 267 05 32
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