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inaugura três exposições no dia 2 de Junho pelas 19horas
Roberto Chichorro com esta sua exposição “KARINGANA – estórias de era uma vez” revela-nos o fundamento da sua estética e da sua poética, a essência da imagética formal das suas raízes.
Marcas da vida nas memórias e no registo, estas telas dão-nos a ideia possível das suas referências.
Pintando, Chichorro remete-nos para o seu tempo passado, para os seus lugares de eleição, como se a vida se fixasse em cada modo, em cada cor, em cada amplexo da forma.
Forma que nos faz sentir a estória de ritos e mitos em que somos modelados e fixados numa sinalética que é o paradigma total da nossa/sua realidade.
Assim, paradigmática é a obra de Roberto Chichorro, na obediência, inconsciente ou subconsciente, com que associa os símbolos que revelam a forma total da sua africanidade, na poética ritualesca em que se respira a memória da sua vida vivida.
Como referimos no texto da sua mostra “Tempo de noivamentos com flores de ser jacarandá” a pintura de Roberto Chichorro situa-se num tempo essencial, espacial, e rítmico de um “eros” onirico e musicalizado, marcada por um colorismo emanente de mitos e ritos que se situam nas suas raízes e referências, na ingenuidade possível de um tempo escolhido entre a memória e a poesia”
Álvaro Lobato de Faria
Director Coordenador do MAC
Movimento Arte Contemporânea
- na Rua do Sol ao Rato 9 C em Lisboa
Rosa Reis é uma artista no sentido exacto da palavra, pela alegria que transmite aos outros, pela sua generosidade, pela forma idealista como encara a sua arte e pela originalidade e perspicácia como capta os melhores ângulos de um rosto, o sentido de um gesto, de um movimento ou de vários aspectos do quotidiano, transformando a realidade através de um modo de ver, de visualizar que é o seu.
Com as imagens que Rosa Reis nos oferece, podemos identificar o seu modo de estar e sentir, os seus motivos, a forma mágica como ela integra a realidade dos objectos, a sua presença num mundo continuado e poético que é a sua obra.
Um olhar perspicaz vocacionado para a captação intemporal do mundo, das pessoas e das coisas, dos espaços e dos tempos, Rosa Reis capta a magia do momento incomensuravelmente mínimo, em que o seguinte se desiguala por força do tempo que vivemos, insertos que somos no nosso universo cósmico.
A fotografia, distantemente das outras artes bidimensionais, fixa o momento exacto.
Tentativa usada pelos impressionistas, no sentido de recolher o instantâneo de luz /cor de cada momento. Longe do impressionismo e do realismo em termos estéticos e mesmo descritivos, a inclusão da fotografia como meio moderno surge como sintoma de ruptura e fim da modernidade e, paradoxalmente, dos fundamentos do pós-modernismo.
A imagem fotográfica tem a capacidade de reter presenças que de algum modo sirvam, por um lado para o reconhecimento do real e sua apreensão como a mágica representação de momentos de memória.
Entra por este meio no universo das artes, da arte, talvez ao nível da simbólica representação pré-histórica para a apreensão do objecto, tornado objecto de arte pela evolução dos conceitos.
Tomemos esta analogia como se a fotografia fizesse parte ainda da antropologia das memórias registadas.
Mas, quando a fotografia ultrapassa o real e penetra um mundo filtrado pelo fotógrafo, entra já conceptualmente no campo da arte como fazendo parte integrante dos objectos sujeitos à manipulação do artista, surgindo um objecto-outro posto em acto pela mente criativa do artista.
Em Rosa Reis, ao longo da sua obra publicada, sentimos esse estímulo de registos e comparações do homem em habitats vários, reformulados e inseridos em contextos diversos, dando-nos por vezes a dimensão de escalas e situações em que o homem se ultrapassa a si próprio; noutras séries de obras oferece-nos o inquietante e palpitante espectáculo do frenesim actuante, como se o som e o movimento parassem no tempo, para nos fazer chegar o sentir e o respirar daquele momento.
Assim, é necessário chamar a atenção para o facto de a obra de Rosa Reis não ser a imagem em geral, mas sim o modo como aquela foi concebida e realizada através de um dispositivo técnico elemento intermediário e interfactual entre Ela e o mundo.
No entanto e apesar desta demarcação, é evidente que na sua condição real de imagem, depende ainda de outras relações.
A mais problemática será sem dúvida do ponto de vista histórico e ontológico que a imagem assinala como uma ferramenta de representação realista que Rosa Reis na sua imensa qualidade delata, pela formulação interna que determina a sua forma específica de aprender a realidade, dá-nos essa mesma realidade como sua.
É por esta qualidade enorme que Rosa Reis nos apresenta agora no MAC – Movimento Arte Contemporânea esta exposição e nos oferece aquilo que tomou para si no tempo e no momento como corpo e alma das coisas ali representadas.
Álvaro Lobato de Faria
Director Coordenador do MAC
Movimento Arte Contemporânea
ANVERSO REVERSO - 5
João Duarte/Medalha Contemporânea
- na Rua do Sol ao Rato 9C em Lisboa
Apocalypse - bronze patinado
Ambivalência I - bronze patinado
Ambivalência II - bronze patinado
Temptation - bronze patinado
As maneiras segundo as quais os homens são capazes
de competir pela superioridade são tão variadas
quanto os prémios que são possíveis de se ganhar(1)
Homo Sapiens / Homo Faber / Homo Ludens
O carácter de ficção é um dos elementos constitutivos da obra de João Duarte.
É coisa muito séria e necessária, além de ser reclamado como um “direito de autor”.
Os jogos e os “brinquedos” fazem parte da vida do João tanto quanto ele vive num mundo de fantasia, de encantamento, de alegria, de sonho, onde realidade e faz-de-conta se confundem. “Brincar” está-lhe na génese do pensamento, da descoberta de si mesmo, da possibilidade de experimentar, de criar e de transformar o mundo.
Enquanto o “jogo” dura, as regras que regem a realidade quotidiana ficam suspensas. E é assim que tem de ser.
O João é o medalhista que brinca. O Homo Ludens (2) de Huizinga que aprimora a capacidade lúdica como uma categoria absolutamente primária, tão essencial quanto a fabricação do objecto ou o raciocínio que lhe antecede.
Dá forma a mentefactos, objectos ou representações mentais de coisas, situações, ocorrências externas e vivências interiores conscientes ou emocionais.
Como um verdadeiro microcosmo, a obra do João Duarte estabelece-se como uma realidade fascinante, diversa da arte contemporânea, possuidora de tempos, espaços, regras, valores e objectivos específicos.
É este o sentido, a forma e o modo como o João Duarte interiorizou e desenvolveu o papel da medalha como Objecto de Arte, transformando o conceito tradicional de medalha num outro – a medalha como Objecto Lúdico. Objecto de conhecimento na relação que estabelece com o fruidor que dele participa, captando-o segundo as formas adquiridas à priori e as categorias inatas ao intelecto.
Se tem um pai, também há-de ter mãe
Estava-se no final da década de 70 na então Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, à cidade de São Francisco. Emergia um esforço encetado pelo Professor Escultor Euclides Vaz no sentido de incrementar a medalha como tecnologia da licenciatura de Escultura.
Entre os primeiros curiosos, o João.
A medalha situava-se agora entre a ordem e a desordem, constituindo-se já como um instrumento de uma nova sociabilidade, com limitações e oferecimentos.
Do emaranhado de experimentações iniciais ressaltavam agora, de uma forma mais ou menos clara, as primeiras propostas concretas realizadas ao longo da última década – José Aurélio, Irene Vilar, José Rodrigues, Charters d`Almeida, José João Brito ou Clara Menéres aventuravam-se a desbravar caminho, entre tantos outros.
Aparentemente, a medalha “jogava-se” com uma realidade que se regia por regras convencionais, convencionadas e racionais, provavelmente razoáveis e aceites por todos os intervenientes. Mas no João gerava emoção, excitação e fascínio.
Apesar do seu regramento, a medalha manifestava-se imprevisível, abria uma brecha, um intervalo no quotidiano, no “sério”, abria um leque de possibilidades, um tipo moderado de loucura, que determinava a carga intensa e múltipla de significados que se propunha desenvolver.
Transcendia a finalidade e o sentido comemorativos, conferindo-lhe uma carga “festiva”.
Parentescos à parte, com relação ao estudo de um amplo conjunto de comportamentos que inclui as primeiras experimentações plásticas, João Duarte pode ser considerado como o primeiro a encetar esforços no sentido de estabelecer uma praxis no campo da medalha contemporânea, dependente, exactamente, da modalidade ou característica lúdica que lhe serve à argumentação.
De “menino bonito” a “enfant terrible” da medalhística portuguesa, faz parte da sua história por representar uma conquista fundadora. Só por isso tem direito ao seu lugar.
A par dos avanços técnicos, estético e até culturais que materializou, o que mais impressiona é que ainda hoje, mais de duas décadas passadas, quando tudo mudou, o João se mantém firme, testemunhando uma vanguarda que o tempo não apaga.
Abrir caminho é tarefa para os audazes. E o João faz parte dessa classe “dirigente” que olha para a frente e projecta o futuro. A sua obra tem sede própria – ensaia composições, recorre a materiais variados, aplica a pluralidade das cores.
Misturando o bronze com outros materiais, cria peças com um novo sentido para o fruidor, podendo este intervir, desagregando e reconstruindo o objecto, como se de um puzzle se tratasse.
Traçar e seguir um rumo…
Como no desenrolar de uma paixão, as certezas fortaleciam-se nas conquistas que alcançava. Os primeiros prémios, o reconhecimento nacional, a primeira internacionalização (em 1988, no XXI Congresso Internacional da FIDEM, em Colorado Springs, por recomendação do gravador Vasco Costa).
A medalha apresentava-se como um campo cada vez mais complexo e fascinante, com maior ou menor nitidez, maior ou menor ocultação. Uma aparência entendida como aquilo que parece ser, mas que possibilita qualquer coisa de diferente e até de oposta.
Na década de 90, logo após a aposentação do Professor Hélder Batista, assume a regência da cadeira de Medalhística na então Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, e traça o rumo para as gerações vindouras. Um rumo que convoca de imediato duas premissas de base: a diferença e a complementaridade.
Uso, transformação, recriação – o abandono de preconceitos amarrados a uma noção erudita, elitista, virtuosa e redutora da medalha.
A estandardização, aos poucos, dá lugar à aspiração de originalidade. A busca de objectividade extrema abre lugar à inquietação da subjectividade que determina a sua carga intensa e múltipla de significados – a produção de sentido.
O João Duarte levou as velhas e novas gerações de escultores a interessarem-se pelo estudo da medalha enquanto obra de arte, inculcando-lhes a ideia de liberdade de criação de um objecto que pode ser manipulado de uma forma diversa, não forçosamente como sinal comemorativo de algo, mas sim, como objecto com lugar próprio e bem definido no campo da universalidade da arte.
Costurado pelo chamado “espírito desportivo”, capaz de banalizar vitórias e derrotas ao sustentar a máxima “o importante é participar”, nasce o primeiro grupo organizado de medalhistas portugueses – ANVERSO/REVERSO. Na sua composição fundadora, os nomes de Hélder Batista, João Duarte, José Simão, Paula Lourenço e Vítor Santos articulavam-se numa espécie de rede de fraternidade reunida, literalmente, em torno de uma mesa de restaurante.
Medalhas e problemáticas teórico-práticas à parte, o verdadeiro “espírito de grupo”, inicialmente alicerçado numa ética que partia da liberdade voluntária dos seus membros e impunha a igualdade de oportunidades e condições, viria a manifestar-se numa forma de ordenação providencial, traduzida por uma outra máxima - “que vença o melhor”. Situação que envolvia a necessidade de afirmação de unidade territorial, vaticinando o verdadeiro clamor concorrencial que lhe estava na génese, quem sabe se pelo impulso da competição, se pelo prazer do embate.
A rigor, os jogos podem ser sérios. Situados entre as actividades regradas e concretas que participam da sensatez. Mas a capacidade de jogar conforme as regras combinadas não é inerente a todos. Depende de certos princípios exteriores ao próprio jogo, como honra, honestidade e bom-tom.
Que vença o melhor, pois então!
É necessário que ele cresça e que eu diminua.(3)
A dupla face do João
No Cristianismo medieval, as antigas festas solsticiais em honra de Baco, Saturno ou Jano (4), o deus de duas faces, tornaram-se nas festas dos dois Joões – Batista e Evangelista – celebrados nas proximidades dos solstícios de Inverno e de Verão.
E apesar de não existir nenhuma relação etimológica entre os dois nomes, não podemos deixar de nos questionar se será puro acaso a semelhança fonética entre Jano e João.
Sendo Junho o mês das sanjoaninas, manifestações mais significativas das festividades populares, que melhor altura para comemorar o João?
Embora não possamos ignorar a perspectiva mais plural e elástica da “concorrência”, na fase de construção paradigmática em que a Medalhística se encontra actualmente, o programa do João Duarte apresenta-se como o mais estimulante.
Verdadeiramente inovador, medalhista de referência, João Duarte criou como ninguém antes nem depois, um outro estatuto para a Medalha, integrando-a de uma forma definitiva no panorama das artes plásticas portuguesas.
Adoptando uma perspectiva ampla, nas suas variantes ideológica, formal e pedagógica, que lhe permite melhor agarrar a complexidade e heterogeneidade do campo operativo, não corre riscos de se perder num horizonte sem fronteiras mínimas, recorrente a pequenas imitações, simbólicas ou padronizadas de multiplicação ad infinitum.
Eficiência e honestidade. A dupla face do João. Conta o que está e os que estão e à sua volta está uma “movida” imparável que lhe estimula a criatividade. Alimenta-os e alimenta-se deles.
Com o VOLTE FACE – Medalha Contemporânea(5) (actual Secção de Investigação que coordena na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa) comemorou já as bodas de estanho. Ainda não é prata, ainda não é ouro. Mas o estanho, maleável e sólido, não oxida facilmente e é resistente à corrosão.
Desde a fundação do MAC, muito próximo dos 15 anos de existência, que o João Duarte tem sido um verdadeiro Amigo e um colaborador activo constante, expondo com regularidade o seu trabalho de escultura e de medalha, contribuindo também, deste modo, para o prestígio do MAC – Movimento Arte Contemporânea.
Nesta exposição, ANVERSO REVERSO-5, assumida como símbolo da expurga a fazer neste campo plástico, João Duarte afirma o papel de mestre que lhe cabe como medalhista maior que é, como artista que assume de corpo inteiro o lugar que lhe compete, cuja obra desenvolveu, repartiu e frutificou neste esplêndido conjunto de medalhas que agora nos apresenta.
[2] Op. cit
[3] João; 3: 30
[4] A propósito de Jano v. Teixeira, José; “A Dupla Face de Jano”, in ANVERSO REVERSO, Lisboa: INCM, 2009
[5] A propósito v. Duarte, João; VOLTE FACE – medalha contemporânea – 10 ANOS, Lisboa: Centro de Investigação e de Estudos Volte Face – Medalha Contemporânea, 2008; pp.5-6.
Álvaro Lobato de Faria
Director Coordenador do MAC-Movimento Arte Contemporânea
- As mostras podem ser visitadas até 26 de Junho de 2009
sábado,das 15h às 19h
domingo, por marcação Tm 96 267 05 32
Em http://www.movimentoartecontemporanea.com/
poderá encontrar toda a informação sobre o
MAC-Movimento Arte Contemporânea
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