A Minha Esperança, fundição em bronze, 92x41x35cm, 1989
Capricho Italiano, fundição em bronze, 88x53x22cm, 1997
Inaugura a 4 de maio_ 19h
MAC - Av. Álvares Cabral, 58-60, Lisboa
Um conceito chave é comum a toda a produção escultórica de Santos Lopes – movimento. E neste conceito, o escultor encerra um conjunto de motivações formais – dimensão, textura, patine – através das quais nos é dada uma aparência física, dos seres e das coisas, capaz de afectar os nossos sentidos de tacto e visão.
Santos Lopes constrói a matéria inerte na sobreposição de planos, volumes, arestas, possibilitando-lhe diversas variações de posição relativamente ao fruidor.
Não se trata aqui de uma noção de movimento enquanto deslocamento dos objectos no espaço, mas sim de um movimento interno, de forças que se geram no equilíbrio da composição e as formas estáticas tornam-se cinéticas e dinâmicas, expandindo-se para além das três dimensões: altura, largura e profundidade.
A obra de Santos Lopes assume-se numa linha de investigação escultórica atávica, reforçando as preocupações tradicionais da prática escultórica que se prendem com o espaço, o volume, o peso, a gravidade.
Nela percebemos o interesse que os pontos de vista assumem no seu trabalho. Os pontos de vista dos corpos de Isadora em movimentos de dança, os pontos de vista de braços que dão lugar a asas em movimentos espraiados, os pontos de vista de abraços em movimentos de afecto.
A constância da prática escultórica de Santos Lopes está enraizada na disciplina artesanal do atelier, próxima à magia alquímica, que lhe confere destreza, pouco usual, no manuseamento das matérias, que vão do barro ao bronze, passando pelos gessos, pelas ceras, pelos ácidos.
À parte de todas as polémicas da pós-modernidade, Santos Lopes actua no terreno de uma prática oficinal cara à tradição escultórica até meados do século XX: o escultor é autor moral e material, em que o “pensar” não se distancia do “fazer” – projecto e obra fundem-se num só, afastando-se determinantemente do facilitismo que a industrialização permite.
Ainda cicatrizada pela técnica, a obra sai-lhe das mãos reiterando a proximidade do escultor com as ferramentas, os utensílios, as matérias.
O MAC – Movimento Arte Contemporânea dá as boas vindas a Santos Lopes, pela sua primeira mostra neste espaço, não querendo deixar de chamar a atenção para a forma total com que o artista se entrega à paixão pela arte, pela sua prática, pelo seu ensino, pela sua divulgação.
Firmada numa tradição estética repartida entre a disciplina e a sobriedade plástica, a exposição “Bronzes e releituras em tela” apresenta-se como resultado de um percurso entre a escultura e o desenho que, transportado à tela, perde o carácter de exercício prévio, assumindo autonomia de arte final.
Álvaro Lobato de Faria
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